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Festival Escrita Fina apresenta obras inéditas para violão

Postado em Festivais em 02/11/2021

(Duo Vincens-Maciel toca obra de Thiago Colombo - Video Festival Escrita Fina - AssoVio Vertentes)

Por Fábio Carrilho e Alessandro Soares

Um dos coletivos mais atuantes no cenário violonístico nacional, a Associação de Violão Vertentes (AssoVio Vertentes) acaba de lançar mais uma feliz e necessária iniciativa: o Festival Escrita Fina - Composição em Pauta, que busca divulgar obras inéditas para violão. Nesta primeira edição estão reunidas 24 interpretações em vídeos, intercalados com breves depoimentos. A estreia ocorreu na segunda-feira (01/11) e prossegue até esta quinta (04), sempre às 20h, pelo YouTube da AssoVio Vertentes. A cada dia vão ser apresentadas seis peças de 23 compositores e 21 intérpretes.

ASSISTA À ESTREIA DO PROGRAMA DESTA QUINTA (03/11) ÀS 20H CLICANDO EMBAIXO

No programa desta quarta (03/11), haverá uma peça de Marco Pereira, o Sincopado - Choros de Byron, Mov I, interpretada por Jefrey Andrade. Será inevitável o clima de despedida na noite porque será exibida uma breve fala da compositora Rê Montanari (1962-2021), que morreu ontem de câncer, e este é o último registro dela em vídeo para o público. A peça da Rê, Balada Pra Lua, vai ser apresentada por Cristina Azuma.

"Rê se inscreveu no Festival instigada pelo grupo das Mulheres Violonistas. Ela ficou impedida de tocar por causa da doença e me pediu para interpretá-la, pois queria um toque feminino por alguém que pudesse também improvisar na parte central da peça. É um tema de jazz brasileiro escrito para violão solo. Fico feliz de termos realizado isso juntas.", relevaa Cristina Azuma ao Acervo.

(Rê Montanari)

Também nesta quinta, o compositor Eduardo Frigatti terá sua Fantasia II defendida por Walmor Boza, enquanto Roberto Victório vai ter a obra Vril tocada por Stanley Levi. E mais Daniel Wolff, que compôs AssoVio das Cordas, apresentada por Adailson Araújo, além de Diego Salvetti. que vai tocar sua Vertentes Andaluzas.

De fato, o festival contempla um panorama bem variado de estilos, escolas e tendências do violão brasileiro instrumental. Nesta quinta (04/11), Gilson Antunes apresenta Entrecantos e Prantos, de Marcus Siqueira, seguido de Andrea Perrone, que vai tocar sua autoral Anunciação, assim como Gabriel Angelo, que optou por mostrar sua própria composição, Prelúdio Dodecafônico. Tem ainda Carlos Chaves, com sua Habanera para Carrilho. Por fim, Octávio Deluchi interpreta Jequibau, composta por João Luiz, e o Duo Vincens-Maciel encerra o evento com 3 Trens, de Thiago Colombo.

PROGRAME-SE PARA  A ESTREIA DO QUARTO E O ÚLTIMO DIA DO FESTIVAL NESTA QUINTA (04/11)

Para quem perdeu os primeiros dias do festival, vale lembrar que os links permanecem disponíveis e vale muito a pena conferir. Na primeira noite, houve a primeira audição de Pererê, um tema inédito de Marco Pereira, interpretado pelo Duo Siqueira Lima, que por sinal a gravou em seu novo disco, a ser lançado em breve. Na mesma noite, Fábio Bartoloni tocou o Prelúdio nº 10 op. 237 nº 3, composto por Achille Picchi, enquanto Jean Carlos Gomes apresentou Um Canto de Resistência, de Rogério Constante. E Marcelo Azevedo mostrou Canção Para Falar de Amor, criada por José Wellington. Já Arthur Forattini (que tocou Fugata, Transfiguração e Poslúdio) e Elodie Bouny (com Abraços do Sul) mostraram suas próprias obras.

O programa da terça (02/11) contou com os intérpretes Gilson Antunes, Gabriele Leite, Tiago Marques, Jean Lopes, Guilherme Vincens, Octávio Deluchi e Jefrey Andrade. Entre os compositores da noite, teve Sérgio Vasconcellos Corrêa, Juliano Camara, Alexandre Gismonti, Pedro Pascoali e o próprio Vincens. (Veja programa completo de todos os dias abaixo)

(Duo Siqueira Lima)

O Festival Escrita Fina parece que veio pra ficar. Na verdade, a AssoVio Vertentes já é conhecida pelo já tradicional Circuito de Violão, que realizam anualmente desde 2017. Excepcionalmente em 2021, seus integrantes Octávio Deluchi, Jefrey Andrade, Rodolfo Mantovani, Marcelo Azevedo, Jean Gomes e Adailson Araújo, todos egressos do curso de Música da Universidade Federal de São João Del-Rei, optaram pela não realização do Circuito, abrindo espaço para esse novo projeto. "Queremos fomentar e incentivar o desenvolvimento de novas obras para violão", afirma Deluchi em depoimento ao Acervo.

(Rogério Constante)

O Escrita Fina está estruturado em dois eixos principais: compositores já estabelecidos no cenário do violão brasileiro, alguns deles dedicando obras ao próprio evento; e novos compositores, esses selecionados por concurso previamente organizado pelo coletivo. Em ambos os casos, a única exigência foi o ineditismo da obra. "Estamos realizando a estreia de dezenas de obras para violão solo, de compositores já consagrados e de selecionados no edital. Foram quase 40 inscrições e selecionamos oito para serem estreadas no evento, o que sinaliza uma profusão de compositores para violão no país", comemora Deluchi.

Como se observa na programação, as obras estando sendo estreadas tanto por membros da AssoVio quanto por convidados. O formato do Festival Escrita Fina foi influenciado e inspirado por outros projetos, como o Concurso Novas, dirigido por Elodie Bouny. que inclusive tem o Acervo Digital do Violão Brasileiro como parceiro, e o festival Escuta Aqui, também com o propósito de divulgar música nova.

(Octávio Deluchi)

"Desde o início já tínhamos em mente convidar compositores e, em paralelo, abrir um edital a novos compositores. Sobre os solistas, sabemos que o processo de escrita e interpretação pode estar diretamente relacionado. Por conta disso, alguns compositores indicaram seus próprios solistas e outros foram nomeados pela AssoVio Vertentes", revela Deluchi. "Queríamos ter certeza de que os indicados fossem as pessoas certas para aquele repertório, por isso consultamos os solistas para certificarmos de que haveria o interesse", completa.

O próprio Deluchi ficou responsável por uma das estreias, a peça Festejo Latinoamericano, de Juliano Camara. "É uma peça inspirada na diversidade cultural da América Latina, que tem como base a clave rítmica em 6/8, característica de gêneros como o candomblé do Brasil. A obra idealiza a atmosfera carnavalesca de festas populares presentes em todo o território latino americano. Em 2020, ganhou o primeiro lugar no 5º Concurso Internacional Fidelio de composição para violão em Madri", comenta o compositor. 

(Jefrey Andrade)

Outro membro da AssoVio a estrear obras é Jefrey Andrade, que tocou composições novas de Marco Pereira e de Sérgio de Vasconcellos Corrêa. "Marco Pereira nos enviou o Choros de Byron juntamente com Pererê, interpretada pelo Duo Siqueira Lima", conta Andrade. Sobre a obra Pendega, de Corrêa, Andrade recorda que estava escrevendo a dissertação de mestrado, que trata de sua obra. “Então Corrêa  compôs esta obra - a primeira inédita dele após mais de 20 anos - dedicada a mim", revela. "É um tema que ele aprendeu aos sete anos de idade através de um livro de leitura da escola que tratava de um desafio entre dois violeiros. Criou um tema com variações sobre essa melodia, abrindo com uma espécie de ponteado, trazendo, logo em seguida, variações".

O violonista e compositor Guilherme Vincens é outro convidado, trazendo suas 7 Miniaturas, executada pelo próprio e feita em homenagem a Jane Curry, violonista da Nova Zelândia acidentada há dois anos e que ficou tetraplégica. "Ela é minha amiga e está em constante reabilitação, conseguindo recuperar movimentos aos poucos. Tocar ainda é muito difícil, mas ela me mandou um vídeo com algumas coisas simples do século XIX. Tive a iniciativa de escrever algumas peças com harmonia um pouco mais moderna para ela tocar. As primeiras peças são simples, sem pestanas e usando cordas soltas, e vão ficando um pouco mais desafiadoras", conta Vincens, que compôs as miniaturas na expectativa de que a colega consiga tocá-las e se recupere o máximo possível.

(Gilson Antunes)

Entre os intérpretes convidados, Gilson Antunes está estreando duas obras: Entrecantos e Prantos, de Marcus Siqueira, e O Frangipani, de Pedro Pascoali, compositor que foi um dos selecionados pelo edital. "Marcus Siqueira é mineiro, formou-se na USP e foi aluno do Edelton Gloeden. Eu o considero um dos maiores compositores para violão do mundo na atualidade", diz Antunes. A obra de Siqueira, aliás, foi dedicada a Edelton. "Possui um clima melancólico muito bonito, além de ser uma peça de fôlego, que dura quase 16 minutos. Considerei um grande adendo para o repertório pela duração, pois o compositor utiliza o violão de uma maneira que não é estereotipada nem muito usual", comenta Antunes.

Em relação à peça O Frangipani, Gilson Antunes, que é professor da UNICAMP, diz que já conhecia o compositor dos corredores da universidade. "O Pascoali é violonista e aluno do curso de Composição da Unicamp. Faz aulas com uma monitora minha e me convidou para tocar sua música, que é baseada no romance do escritor moçambicano Mia Couto, chamado 'A Varanda do Frangipani". É uma miniatura bastante interessante", comenta o violonista.

Outra violonista convidada foi Gabriele Leite, que tocou a peça Passacaglia do MC, de Alexandre Gismonti. "Minha música leva este nome porque comecei fazendo uma linha de baixo recorrente e depois acrescentei a melodia, ficando parecida com o ritmo de maculelê, que é muito usado no funk. Então fiz essa mescla de nomes: passacaglia, por conta da linha de baixo e forma da música erudita, e o MC. Basicamente é isso, daí a Gabriele gravou magistralmente e ficou muito bom", diz  Gismonti.

Serviço:

1º Festival Escrita Fina

Quando: 01 a 04 de novembro 2021

Onde: Youtube do AssoVio Vertentes

Programa:

Segunda-feira (01/11)

  1. Duo Siqueira-Lima - Pererê (Marco Pereira)
  2. Fábio Bartoloni - Prelúdio nº 10 op. 237 nº 3 (Achille Picchi)
  3. Jean Carlos Gomes - Um Canto de Resistência (Rogério Constante)
  4. Arthur Forattini - Fugata, Transfiguração e Poslúdio (Arthur Forattini)
  5. Marcelo Azevedo - Canção Para Falar de Amor (José Wellington)
  6. Elodie Bouny - Abraços do Sul (Elodie Bouny)

Terça-feira (02/11)

  1. Pedro Pascoali - O Frangipani (Gilson Antunes)
  2. Tiago Marques - Variações Intertextuais (Jean Lopes)
  3. Juliano Camara - Festejo Latinoamericano (Octávio Deluchi)
  4. Alexandre Gismonti - Passacaglia do MC (Gabriele Leite)
  5. Guilherme Vincens - Sete Miniaturas (Guilherme Vincens)
  6. Sérgio Vasconcellos Corrêa - Pendenga (Jéfrey Andrade)

Quarta-feira (03/11)

  1. Eduardo Frigatti - Fantasia II (Walmor Boza)
  2. Rê Montanari - Balada Pra Lua (Cristina Azuma)
  3. Marco Pereira - Sincopado - Choros de Byron, Mov I (Jéfrey Andrade)
  4. Roberto Victório - Vril (Stanley Levi)
  5. Diego Salvetti - Vertentes Andaluzas (Diego Salvetti)
  6. Daniel Wolff - AssoVio das Cordas (Adailson Araújo)

Quinta-feira (0411)

  1. Marcus Siqueira - Entrecantos e Prantos (Gilson Antunes)
  2. Andrea Perrone - Anunciação (Andrea Perrone)
  3. Gabriel Angelo - Prelúdio Dodecafônico (Gabriel Angelo)
  4. Carlos Chaves - Habanera para Carrilho (Carlos Chaves)
  5. João Luiz - Jequibau (Octávio Deluchi)
  6. Thiago Colombo - 3 Trens (Duo Vincens-Maciel)

Compositores: Alexandre Gismonti - Andrea Perrone - Achille Picchi - Arthur Forattini - Carlos Chaves - Daniel Wolff - Diego Salvetti - Eduardo Frigatti - Elodie Bouny - Gabriel Angelo - Guilherme Vincens - João Luiz - Jose Wellington - Juliano Camara - Marco Pereira - Marcus Siqueira - Pedro Pascoali - Rê Montanari - Roberto Victorio - Rogério Constante - Sérgio de Vasconcellos Corrêa - Tiago Marques - Thiago Colombo

Intérpretes: Adailson Araújo - Andrea Perrone - Arthur Forattini - Carlos Chaves - Cristina Azuma - Diego Salvetti - Duo Siqueira Lima - Duo Vincens Maciel - Elodie Bouny - Fábio Bartoloni - Gabriel Angelo - Gabriele Leite - Gilson Antunes - Guilherme Vincens - Jean Carlos Gomes - Jean Lopes - Jéfrey Andrade - Marcelo Azevedo - Octavio Deluchi - Stanley Levi - Walmor Boza

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