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Violonista Caio Cezar Sitonio e violeiro Pita Cavalcanti estreiam concerto Bach Viola Sertão em cidades do RJ

Postado em Shows em 15/08/2025

(Caio Cezar Sitonio e Pita Cavalcanti)

Amigos de longa jornada, os pernambucanos Caio Cezar Sitonio (violonista, arranjador e pesquisador) e Pita Cavalcanti (violeiro) estrearam em agosto o concerto Bach Viola Sertão, passando por várias cidades do interior do Rio de Janeiro. São quatro recitais pelo Sesc Pulsar. Ramos, Três Rios, Teresópolis e Campos. O repertório é formado por fugas, invenções e prelúdios, extraídos do Cravo Bem Temperado, de J S Bach. O cenário do espetáculo é de projeções do barroco sertanejo criadas pelos artistas visuais Toni Braga, Gabriel Furtado e Salim Alves.

Em setembro, Caio e Pita vão lançar dois videoclipes do projeto Bach Viola Sertão pelo Acervo Violão Brasileiro. E estão sendo produzidos mais concertos para Recife, São Paulo e outras capitais. A ideia de gravar um álbum digital do projeto também está em curso.

As adaptações das peças para esta peculiar formação são de Caio Cezar. “A sonoridade brasileira do violão e sertaneja da viola caipira estabelecem um diálogo artístico e musical entre o Barroco Bachiano Setecentista (barroco histórico) e o Barroco Nordestino Brasileiro (barroco trans-histórico), este, caracterizado por um existencialismo dramático – expressão dessa experiência histórica paradoxal e dual do nordeste e especificamente do sertão – que consiste em inventar e reinventar ao seu modo, à sua maneira os determinismos clássicos e universais incorporando antropofagicamente outras experiências vividas, outros valores, outras culturas e fazendo dessa incorporação um traço característico importante da cultura nordestina, brasileira e latino-americana.  Esse é o mote dessa peleja atemporal”, sintetiza Caio.

Foi com base nesse conceito que Caio e Pita selecionaram o repertório de 14 composições do Cravo Bem Temperado. São os Prelúdios 02 (BWV 847); 10 (BWV 855); as Fugas 02 (BWV 847), 03 (BWV 848), 10 (BWV 855), 12 (BWV 881), 13 (BWV 858); e as Invenções 01 (BWV 772), 02 (BWV 773), 04 (BWV 775), 06 (BWV 777), 14 (BWV 785) e 15 (BWV 786), Partita - Allemande BWV 1013.

Nesta seara do Barroco Sertanejo, ou como dizia Haroldo de Campos o Transbarroco, ou o Surregionalismo no entendimento de Antônio Cândido, ou mesmo Transregionalismo para José Miguel Wisnik, todos inspirados na ideia de Guimarães Rosa de que o "sertão é mundo e o mundo é o sertão", obras basilares foram criadas por artistas de linguagens diversas no Brasil e na América Latina. Exemplo disso se dar na literatura de Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”, no cinema de Glauber Rocha em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, nas esculturas de Francisco Brennand, no Armorial de Ariano Suassuna, no realismo mágico de Manoel de Barros, Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Marquez, Isabel Allende, entre outros. Daí o entendimento libertador e consagrador de que “A América é fronteira, o Sertão da Europa”.

A idéia, portanto, é propiciar um espetáculo de rara beleza baseado num sincretismo estético e fantástico formado por esses três pilares, a obra de Bach, a cultura musical brasileira e a estética barroca e transcendental do sertão brasileiro. Aqui, o público poderá perceber a grandeza da sua cultura e se deparar com a trajetória e construção plural de sua identidade e formação, possibilitando-lhes, ainda, uma renovação simbólica e referencial dos elementos significativos inerentes a toda obra de arte. 

Ajude a preservar a memória da nossa cultura e a riqueza da música brasileira. Faça aqui sua doação.