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Revista Violão + tem todas as suas edições disponíveis na Biblioteca do Acervo Violão Brasileiro

Postado em Artigos em 08/02/2022

(Luis Stelzer)

Por Fábio Carrilho

Folhear uma revista de violão é uma experiência de alta carga nostálgica. Em um passado não tão remoto de pouco mais de cinco anos, violonistas ainda não haviam conquistado as redes sociais na dimensão dos dias atuais, o que permitia que informações exclusivas e novidades fossem trazidas em primeira mão pelas publicações especializadas. Um longo ciclo, que começou no Brasil em 1928 com o periódico O Violão, pode ter se encerrado com a descontinuidade da revista online Violão +, a última que se tem notícia dedicada ao instrumento no país e cujas edições agora se encontram disponíveis na íntegra na Biblioteca do site Acervo Violão Brasileiro para baixar grátis a partir desta quarta-feira (09/02).

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Já podem ser baixadas as três primeiras edições. Os temas de capa são dedicadados ao Quaternaglia, Duo Siqueira Lima e Yamandu Costa, respectivamente. Em março vão estar acessíveis mais quatro edições. E assim por diante. Dirigida pelo violonista Luis Stelzer e produzida pela editora Blue Note, Violão + circulou mensalmente entre setembro de 2015 e outubro de 2017, totalizando 26 edições. "O pianista Nilton Corazza fazia a revista online Teclas e Afins e me trouxe a ideia de uma revista para violão que utilizasse uma plataforma semelhante. A revista nasceu a toque de caixa, pois tivemos aproximadamente cinquenta dias entre essa conversa e o lançamento, que foi na Expomusic 2015", relembra Stelzer. "Tivemos como inspiração revistas que fizeram algum barulho e nas quais eu mesmo trabalhei como colunista, como a Acústico e a Violão Pro, além da Guitar Player brasileira", revela.

BAIXE A PRIMEIRA EDIÇÃO N. 1 DA REVISTA VIOLÃO +

Revista Violão Mais tem todas as suas edições disponíveis na Biblioteca do Acervo Violão Brasileiro - Capa Revista Violão Mais Nº1 - Quaternaglia

A linha editorial, formada por uma espinha dorsal que incluía lançamentos, entrevistas, matérias especiais, testes e lições estava de acordo com o modelo das publicações da época. "Buscamos fazer uma revista bem completa, que atendesse desde o violonista iniciante até o concertista. Procurávamos colocar um pessoal de peso para falar do instrumento, tanto do clássico quanto do popular, variando bastante e buscando quebrar essa fronteira", diz.

No DNA da revista estava o fato de sempre reservar o espaço da capa para os artistas, assim como a busca pela cobertura de temas pouco presentes em outras publicações, o que poderia envolver tanto questões pedagógicas, como o ensino do violão em grupo. Além disso, havia lições dedicadas especificamente ao violão de cordas de aço (dreadnought); artigos sobre instrumentos de cordas dedilhadas de outras culturas, entre outros assuntos de rara frequência em revistas de violão.

Revista Violão Mais tem todas as suas edições disponíveis na Biblioteca do Acervo Violão Brasileiro - Capa Revista Violão Mais Nº2 - Duo Siqueira Lima

Outra característica típica da Violão + era a multitextualidade por meio da ponte feita dos textos com as redes sociais, com links neles inseridos que permitiam o acesso a conteúdos complementares, a exemplo de vídeos demonstrativos, o que ampliava a experiência da leitura, principalmente na seção de lições. "Infelizmente este material não segue completamente disponível, pois o entendemos como de propriedade dos colunistas. Enquanto a revista estava no ar, nosso acordo era de que as publicações ficassem acessíveis, mas quando paramos, infelizmente, não deu para manter todos os materiais", lamenta Stelzer.

Por ser uma revista online de acesso gratuito, outro aspecto muito interessante era o seu modelo de financiamento. "Não havia publicação física, fomos a primeira revista de violão totalmente online. Era totalmente grátis e a revista se pagava pelo merchandising das lojas de instrumentos, dos fabricantes e das escolas de música.

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Revista Violão Mais tem todas as suas edições disponíveis na Biblioteca do Acervo Violão Brasileiro - Capa Revista Violão Mais Nº3 - Yamandu Costa

Publicávamos anúncios com links diretos para os sites das empresas e assim funcionava", conta Stelzer, que conduziu a Violão + até 2017, ano fatídico que acabou inviabilizando sua continuidade. "Vários problemas de ordem econômica e política travaram o crescimento do país e os investidores não estavam dispostos a bancar projetos. Recebemos a notícia dentro da Expomusic daquele ano de que a feira não aconteceria mais, então esfriou bastante o mercado. Os anúncios que já eram muito poucos, acabaram. Nilton e eu ainda mantivemos a revista por três meses, porém decidimos não continuar", diz.

Um dos colaboradores da Violão +, o violonista e professor Breno Chaves (ex integrante do Quaternaglia e do Quarteto Tau e atualmente no Trio Elipsoidal) recorda quando recebeu o convite de Stelzer para escrever na Revista. “O objetivo era a produção de uma revista que abrangesse aulas, entrevistas, pesquisas, material didático e notícias do universo musical, mais especificamente do violão. Foram elaborados 12 artigos em forma de texto e vídeo, com acesso digital. Uma experiência incrível, arrojada e de grande alcance, contemplando estudantes, profissionais e diletantes do violão”.

(Breno Chaves)

A musicista da Universidade Federal Fluminense, Rosimary Parra, também era colunista da Violão +, nas edições de número 1 a 16. “Falei dos antecedentes históricos do repertório violonístico, depois sobre a vihuela (questões técnicas, transcrição de música vocal e indicações para interpretação da música dos vihuelistas ao violão).

Na sequência, Parra  fez uma série sobre a arte da canção acompanhada, traçando o caminho desde o repertório para canto e vihuela do século XVI até a música para canto e violão do século XX. E finalmente, duas colunas foram de caráter biográfico dedicadas  a Dilermando Reis e Emilio Pujol. “A Revista Violão + inovou em seu formato digital-interativo e de esmerada qualidade visual, oferecendo aos leitores uma diversidade de temas do universo violonístico de viés artístico e pedagógico abordando o violão e sua arte nas mais variadas vertentes”, afirma.

(Rosimary Parra)

O violonista Flávio Rodrgues, um dos grandes especialistas em flamenco do Brasil, foi outro convidado do Luís Stelzer para integrar a equipe de colunistas e professores da revista. "Foi bom demais o Luís ter aberto espaço na Violão + para falar do violão flamenco. Trabalhei por um ano na revista, produzindo aulas mensais e vídeo-aulas no canal do YouTube da revista, explicando o que eu tava ensinando. Na minha coluna, abordei também curiosidades do violão flamenco e todo mês eu dava uma dica de um disco de referência do flamenco. E como eu fiz minha carreira praticamente na Europa, minha atuação na ViolÃo + representou uma excelente porta de entrada para o meu trabalho quando retornei ao Brasil", recorda.

Quando perguntado sobre a possibilidade do surgimento de uma nova publicação nesses moldes, Luis Stelzer é enfático. "Acho que hoje há condições e mercado. Talvez falte por parte de nossos empresários na área da música um entendimento da publicação online como uma ferramenta boa para eles próprios. É uma opinião, pois a revista era muito vista e bastante comentada no meio violonístico, sem contar a quantidade de leigos do violão que eram assíduos da revista", relembra. 

(Flavio Rodrigues)

Sobre a disponibilização das 26 edições no site do Acervo Violão Brasileiro, Stelzer revela que o convite veio de Alessandro Soares, diretor do site. "Fiquei muito honrado com a procura dele. Seria uma pena que este material maravilhoso ficasse parado. Além das revistas, a ideia é deixar um canal aberto para as pessoas falarem conosco, tirarem dúvidas ou tentar entrar em contato com algum colunista", diz agradecido.

 

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