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O flamenco, o clássico e o popular nos ebooks e DVDs online do violonista italiano Diego Salvetti

Postado em Livros e métodos em 29/12/2021

(Diego Salvetti - print de vídeo)

Por Fábio Carrilho

Quando pensamos em métodos para violão, alguém poderia se perguntar qual a necessidade em se produzir uma obra do gênero nos dias atuais. Haveria algo na esfera do violão clássico que os grandes mestres da didática, de Sor, Carcassi e Giuliani até Pujol, Carlevaro e Brouwer não tenham se debruçado? E na área do violão popular, com seus infindáveis métodos sobre os mais variados estilos, técnicas e recursos musicais, ainda mais em época de cursos online e conteúdos gratuitos nas redes sociais, haveria algo novo a ser dito?

A resposta para esta pergunta é um grande "sim", tendo como justificativa menos os assuntos abordados nos métodos, porém a abordagem peculiar dos autores e das autoras sobre eles. Tendo como objetivo apresentar a maneira como lida com questões técnicas em sua performance individual, o violonista italiano Diego Salvetti, natural de Bergamo e radicado no Brasil desde 2015, resolveu reunir exercícios, estudos e peças de sua autoria nos dois e-books Técnica para Violão, os quais trazem, além das partituras e tablaturas, vídeos com o próprio autor interpretando-os e textos em português, italiano e inglês.

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Nessas duas obras de grande fôlego, as quais prefere chamar de "coletâneas" em vez de "métodos", o virtuoso violonista propõe um rico material de estudo que serve não apenas ao violão clássico, mas também ao popular, especialmente a quem busca se iniciar nas técnicas de flamenco.

"Estes livros nasceram a partir da necessidade de representar o percurso técnico, compositivo e musical que desenvolvi nos últimos anos. Incentivado por amigos, alunos e apreciadores do meu trabalho que procuravam partituras de minhas composições, estudos ou simplesmente exercícios, resolvi elaborá-los", revela Salvetti, que atualmente é professor do Conservatório de Tatuí e residente em Poços de Caldas (MG). "Este projeto resultou em livros técnicos, mesmo sem haver essa pretensão. É uma seleção do que mais gosto de tocar para manter a minha técnica, por esse motivo podem ser considerados livros de técnica aplicada", complementa.

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Especialista no violão de 8 cordas, Salvetti reservou um espaço generoso a este instrumento no primeiro volume de Técnica para Violão, lançado originalmente em 2018, o qual conta com prefácio de Marco Pereira e depoimentos de diversos grandes violonistas brasileiros. Subdivido em três categorias, o material traz na seção de exercícios (composta por 13 no total) diversas técnicas associadas, principalmente, ao flamenco, estilo com o qual o violonista possui grande vivência, com destaque para os voltados ao picado (que consiste da alternância dos dedos indicador e médio tocado com apoio em passagens melódicas), assim como exercícios específicos voltados ao violão de oito cordas.

Os estudos configuram um bom retrato da personalidade artística de Salvetti, que ecoa no oito-cordas tanto o flamenco quanto sua sólida formação clássica, além, claro, suas referências ao violão brasileiro. "Acredito muito na mistura de estilos musicais diferentes, nas quais existe a oportunidade de sermos criativos e originais, bem como na possibilidade de se aplicar diferentes técnicas nesses estilos", diz o violonista, que em seus estudos deixa claro, pelo lado composicional, a influência de Carlevaro, Brouwer e Villa-Lobos. "Eles abrangem uma visão panorâmica das técnicas de polegar, arpejos, picado e trêmolo, assim como a combinação de dedos da mão direita e das técnicas em geral. Na fase de criação, procurei compor do jeito mais musical possível", comenta.

Fecham ainda este primeiro volume dez peças de Salvetti, as quais demonstram um compositor bastante inspirado e que transita com bastante desenvoltura pela música brasileira, como nos temas Bahia, Samba do Lago e Choro Flamenco, que fazem referência ao estilo de músicos como Baden Powell e Raphael Rabello. "A música brasileira sempre foi uma pesquisa que fiz individualmente, sem professor. Comprava livros, estudava, sempre intuitivamente, mas com base musical e técnica vindas da formação clássica e flamenca", revela. Em relação à interpretação, as peças são bastante exigentes e um dos grandes atrativos do e-book é justamente poder assistir ao próprio Salvetti, dono de uma técnica impecável e rara sensibilidade, executando-as em seu estúdio.

No volume 2, lançado em 2021, Salvetti praticamente repete a dose, trazendo mais uma leva inspirada de exercícios, estudos e peças, totalizando dez de cada categoria. O prefácio agora é de outro maestro, Sérgio Assad, o qual é acompanhado, assim como no primeiro volume, de depoimentos de diversos nomes de peso do violão nacional. "Este trabalho é simplesmente a continuação do primeiro volume do livro. Creio que minha formação clássica me proporcionou uma base sólida para poder desbravar novos caminhos no violão flamenco e no violão popular brasileiro, escolas que são pilares fundamentais no universo violonístico", diz.

O tema principal do segundo volume é a combinação ternária dos dedos anelar, médio e indicador da mão direita em passagens melódicas, recurso que visa buscar maior agilidade de execução melódica. "Existe pouco material sobre isso ou quase nada. Visa economizar movimento e distribuir o toque em três dedos, consistindo em adicionar o dedo anelar à técnica tradicional de indicador-médio (ou médio-indicador)", diz o violonista, que propõe, inclusive, a combinação desta técnica com o picado. "É uma técnica um pouco perigosa, pois oferece pouca satisfação no começo, além do risco de se aproximar da maneira errada a exercícios repetitivos que não dão resultado", adverte.

Outros assuntos de destaque - tanto nos exercícios quanto nos estudos do volume 2 - são a técnica de rasgueado flamenco, a qual é destrinchada por Salvetti por meio de exercícios que vão desde o nível mais básico de movimento até realizações de grande complexidade, assim como a técnica de polegar, principalmente em alzapúas, toque que consiste em movimentos ascendentes e descendentes deste dedo da mão direita. Novamente, o recurso de se ter Salvetti tocando-os em vídeos, os quais receberam neste volume um melhor acabamento com edição em duas câmeras, é excelente, pela dificuldade em se representar tais técnicas na partitura convencional.

Mais dez peças fecham este trabalho, revelando um novo leque de referências de Salvetti, que desta vez ultrapassa o violão brasileiro, com destaque para o belo tango Emílio Tango; o tema Kanimambo, que brinca com ritmos africanos e a linguagem de instrumentos da família da marimba; La tarde no campo, em clave de rumba; e Ecos para Brouwer e Floripa,  ambas explorando uma scordatura pouco tradicional, com a primeira e sexta cordas afinadas em Ré.

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