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Luisa Streber, uma viajante que trazia instrumentos musicais de várias partes do mundo

Postado em Cartas de amor em 24/11/2023

Luisa Streber, uma viajante que trazia instrumentos musicais de várias partes do mundo - Foto: Luisa Fernanda Hinojosa Streber - Arquivo particular Luís Stelzer

(Luisa Fernanda Hinojosa Streber - Arquivo particular Luís Stelzer)

Por Luís Stelzer*

Já faz quase dois meses que Luisa Fernanda Hinojosa Streber (1966-2023) se foi. Uma pessoa fantástica, amante da vida, dos amigos, das bebidas, das comidas, das lembranças. Luisa não veio a passeio neste mundo. Vou contar um pouco da sua história que pude ver, conviver, saber pelos amigos e amigas. Uma história de uma grande pessoa e uma grande amiga.

Conheci a Luisa no conservatório Souza Lima, escola onde dava aula à época. Me veio apresentada pelo músico e professor Walter Nery. O ano, 2009, tenho quase certeza. Começamos nossas aulas com bastante seriedade. Com o passar dos tempos, começamos a ficar amigos. Compartilhei a ela meu projeto de Orquestra de Violões, que ela simplesmente adorou. Passou a fazer parte do grupo, a se dedicar muito à Orquestra.

Luisa Streber, uma viajante que trazia instrumentos musicais de várias partes do mundo - Foto: Orquestra de Violões - Arquivo particular Luís Stelzer

(Orquestra de Violões - Arquivo particular Luís Stelzer)

Tocamos muito por aí. A maioria das apresentações, sem nenhum cachê, não era objetivo do trabalho na época. Tocamos pela cidade de São Paulo de cima a baixo, saindo até dela. Era uma trupe, que ia se ajeitando como dava, nos carros dos componentes, de ônibus, metrô, trem...tudo para tocar, tudo pela música.

Brigamos muito. Ah, como brigamos! Duas personalidades fortes. Discutíamos desde os equipamentos a serem comprados, a forma que deveríamos usa-los, a disposição da Orquestra nos diferentes palcos (nem sempre tinha palco!). Brigávamos de passar da conta, muitas vezes. Talvez tenha sido a pessoa com quem eu mais discuti na vida. Não sei o que acontece depois da morte, se a gente vai se reencontrar em outro plano quando eu me for. Mas devemos desculpas um ao outro, pelas vezes em que passamos do ponto nas calorosas discussões.

Luisa Streber, uma viajante que trazia instrumentos musicais de várias partes do mundo - Foto: Luisa Fernanda Hinojosa Streber - Arquivo particular Luís Stelzer

(Luisa Fernanda Hinojosa Streber - Arquivo particular Luís Stelzer)

Luisa fez grandes amizades na Orquestra. Não vou citar nomes agora, pois se esqueço de alguém, já viu... mas sou capaz de apostar que grande parte de suas amizades profundas vem dos componentes e ex-componentes da Orquestra Violão+. Mexicana, sem parentes próximos no Brasil, se fez sozinha em São Paulo, trabalhando com cálculos de audiências televisivas, coisa que não sei nem como começar a explicar. Mas sei que ela era craque nisso!

Também foi colaboradora da Revista Violão+, que teve 26 edições em pouco mais de dois anos, entre 2015 e 2017. Eu era o editor-técnico da revista (que está sendo disponibilizada pelo Acervo), que era maravilhosa: tinha seções técnicas, do instrumento, equipamentos, história, entrevistas com músicos incríveis. À Luisa, cabia a coluna Mundo, na qual ela contava um pouco da história de diversos instrumentos de cordas, de todas as partes do planeta. O mais legal é que grande parte desses instrumentos estava na sua casa: uma viajante do mundo, devoradora de culturas de diferentes partes, trazia muitos instrumentos musicais para o seu acervo pessoal. Sua coluna participou de 22 edições da Violão+!

Luisa Streber, uma viajante que trazia instrumentos musicais de várias partes do mundo – Foto: Reprodução de artigo da revista Violão +      

(Reprodução de artigo da revista Violão +)

Uma curiosidade: Luisa morou em alguns países, mas a maior parte do tempo no México, seguido pelo Brasil, onde passou mais de 20 anos. Ao escrever os textos das suas colunas, ela pensava estar fazendo isso em português, mas era uma grande mistura com o espanhol. Então, antes da revisão, acontecia uma “tradução” para o português, obviamente, com a supervisão dela. Obviamente, mais brigas à vista!

Dia 26 de setembro último, o coração da Luisa parou de bater. Com certeza, parte de mim e de outras tantas pessoas se foi com essa perda. Nos últimos tempos, nos vimos pouco, a última vez, dois meses antes da sua morte. Eu e seus amigos estamos ainda muito abalados, tanto que demorei uma eternidade para escrever este texto, a pedido do Alessandro.

Conseguimos fazer duas grandes homenagens a ela: a primeira, colocar seu nome na Orquestra, que agora se chama Orquestra Violão+ Luisa Fernanda Hinojosa Streber; a segunda, por ocasião da missa do 1º mês do seu falecimento, tocamos em sua homenagem, numa linda cerimônia na Igreja de Santa Cecília, que é a padroeira dos músicos. Já faremos a terceira homenagem: a Orquestra Violão+ Luisa Fernanda Hinojosa Streber foi convidada a participar da execução da Misa Criolla (de Ariel Ramirez), no Memorial da América Latina, missa essa que ela adorava. Estaremos lá em dezembro. Por você, Luisa! Até um dia.

Luisa Streber, uma viajante que trazia instrumentos musicais de várias partes do mundo - Foto: Luisa Fernanda Hinojosa Streber - Arquivo particular Luís Stelzer

(Luisa Fernanda Hinojosa Streber - Arquivo particular Luís Stelzer)

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