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Festival de Violão de Belo Horizonte celebra 15 anos com programação online

Postado em Festivais em 15/09/2021

(Juarez Moreira)

Da redação

Além de estarem entre os mais relevantes violonistas mineiros da atualidade, os músicos e produtores Juarez Moreira, Aliéksey Vianna e Fernando Araújo idealizaram um dos mais importantes eventos musicais do país, o Festival Internacional de Violão de Belo Horizonte (FIVBH).  Após um hiato de quatro anos, o evento volta a acontecer neste sábado (18) e no domingo (19), a partir das 19h, com transmissão gratuita e online nos canais do FIV no Youtube, Facebook e Instagram.

Entre os convidados desta edição, estão Turíbio Santos, Juarez Moreira, Nonato Luiz, Thiago Delegado e Gustavo Bracher. E ainda os duos formados pelo alemão Adam Taubitz (violino) e Alieksey Vianna (violão) e por Alexandre Braga (flauta) e Celso Faria (violão). A programação abrange uma série de concertos, palestras e debates, além do lançamento do acervo digital do evento. Acesse o site do festival e confira a programação completa do FIV 15 Anos.

“Essa é a edição mais brasileira que já tivemos. Ou a menos internacional”, comenta o idealizador Aliéksey Vianna. “Por conta da pandemia, resolvemos fazer essa edição online, e acabei tendo a ideia de fazer algo que já queríamos realizar havia muito tempo: disponibilizar ao público o acervo de vídeos das edições anteriores do festival”, conta ele.

Segundo Fernando Araújo, o acervo disponibilizará gratuitamente momentos memoráveis que marcaram a história do Festival Internacional de Violão. “É preciso lembrar que, nesses 15 anos, o FIV trouxe ao Brasil mais de 30 convidados, de mais de 20 países. Muitos se apresentaram no país pela primeira vez no FIV, sendo que a imensa maioria se apresentou no festival de forma exclusiva”, destaca o organizador, citando o grupo Oregon.

“Do Brasil, vieram mais de 50 convidados de todas as regiões. (O acervo digital) é a oportunidade de olhar para trás e ter a dimensão de tudo que o FIV já alcançou: e foi muito”, celebra o idealizador.

Araújo explica que, após nove edições, realizadas entre 2005 e 2017, o FIV entrou no seu maior hiato entre edições, ocasionado tanto por compromissos dos seus idealizadores quanto pelos “caprichos” das leis de incentivo à cultura, fundamentais na realização do festival. “A volta após esse silêncio de quatro anos é um dos motivos pelos quais esta edição é tão especial”, celebra ele.

Reunião de talentos

Única atração internacional desta edição do FIV, o violinista alemão Adam Taubitz se apresenta em duo com o violonista Aliéksey Vianna. “Ele é um dos maiores músicos que eu conheci na minha vida, um gênio”, elogia Aliéksey. Durante uma década, Taubitz foi o spalla – primeio-violinista de uma orquestra –  da Orquestra Sinfônica de Basel, umas das mais prestigiadas da Europa. Na época, Taubitz era o spalla mais jovem do continente europeu.

Depois, Taubitz migrou para a Filarmônica de Berlim, na qual ficou por sete anos e fundou com eles uma orquestra de jazz. Mas, segundo Aliéksey, Taubitz queria seguir outros caminhos musicais. “Ele se tornou um super improvisador, um virtuose como poucos”, analisa o brasileiro. “Em termos de domínio do instrumento, eu nunca vi igual.” 

Aliéksey Vianna e Adam Taubitz irão executar História do Tango, do bandoneonista argentino Astor Piazzolla (1921-1992), cujo centenário de nascimento foi celebrado em 2021. “O Adam é a pessoa ideal para isso, por que além do comando técnico, ele adora o improviso e a música popular, então achei que era a hora de tocar essa peça”, diz Aliéksey. Eles apresentarão também a peça Introdução de Choro, de Radamés Gnattali, para violão e violino, e também uma obra de Sérgio Assad.

Outra atração é Duo Braga-Faria, que traz o flautista Alexandre Braga e o violonista Celso Faria, que trabalham juntos há quase duas décadas e se apresentaram juntos em diversas cidades brasileiras, além de festivais internacionais em edições online. “Durante esse período de atividades, compositores de Belo Horizonte e Rio de Janeiro nos dedicaram obras”, conta Faria.

No FIV 15 anos, o duo irá executar obras transcritas por Celso Faria para flauta e violão, que são originalmente para piano e flauta. Entre elas, estão Saudades da Lapinha (Henrique de Curitiba), Choro Manhoso (Edino Krieger), Sterina (Luiz Woltzenlogel), e Três Canções da Velha Era (do compositor Pauxy Gentil-Nunes), dedicada ao duo. O duo vai também apresentar uma série de peças de Patápio Silva, como a mazurca Margarida, a polca Zinha e a famosa a valsa Primeiro amor.

Celso Faria ministra também a palestra História do Violão em Minas Gerais, sobre os aspectos históricos e estilísticos e tendências do instrumento no estado. “O violão mineiro tem sotaque próprio e eu vou elencar alguns personagens que ajudaram a formar essa originalidade”, explica. Faria divide o seminário em três partes: violão nos gêneros populares, nos ambientes acadêmicos e nas canções populares. “Essas categorias foram criadas por mim e eu vou citar exemplos musicais curtos de cada uma dessas divisões”.

(Adam Taubitz e Aliéksey Vianna)

Referência no violão de sete cordas, Thiago Delegado preparou um repertório autoral para violão solo para apresentar no FIV 15 Anos, pinçados de seus quatro álbuns, e também relembra a obra de nomes como Dilermando Reis e Tom Jobim. “Fiquei super honrado com o convite. Admiro muito o trabalho que os idealizadores fazem com o festival e a história que eles vêm escrevendo”, comenta Delegado, que é parceiro de Juarez Moreira em uma composição, De Caratinga a Guanhães.

O instrumentista e compositor mineiro, que se apresentou com quarteto ao longo de boa parte da carreira, conta que retomou a ligação com o violão solo durante a pandemia. “Desde minha adolescência eu não pegava o violão para fazer um repertório solo”, diz Delegado. “É um show um pouco novo para mim”.

O cearense Nonato Luiz afirma que a relação dele com Minas Gerais é de longa data. Da recepção calorosa que sempre recebe do público quando se apresenta por lá, passando pela obra de Milton Nascimento - que Nonato dedicou um álbum inteiro em arranjos para violão - até chegar nos amigos e parceiros musicais, como Juarez Moreira e Túlio Mourão.

Para o concerto do FIV, Nonato vai privilegiar peças autorias inéditas, como Baião Brando, Choro da Escada, Luz no Fim do Túnel, além das também autorais Estudo N° 10 e Choro Para Mariana, que já foram gravadas. Do cancioneiro consagrado, o violonista vai mostrar arranjos para Mulher Rendeira, Disparada e Here Comes The Sun. “Perto do final farei uma homenagem ao povo mineiro com Teia de Renda, uma composição de Túlio Mourão e Milton Nascimento”, antecipa.

O show de Juarez Moreira, por sua vez, tem mescla de guitarra elétrica e violão. O programa tem Naima (John Coltrane), que ele adora tocar há muito anos e dois temas de minha autoria: Cantiga Bossa Nova e Depois do Amor. E faço outras três peças no violão: Castelo e Choro para Piazzolla, que compus e gravei no disco Riva, e a bossa jazz Estamos Aí, de Mauricio Einhorn e Durval Ferreira), em formação de trio, acompanhado por Lincoln Cheib (bateria) e Kiko Mitre (baixo).

A relação de Juarez Moreira com o FIV começou quando fez um show num evento de violão organizado pelo Fernando Araújo e o Alieksey Vianna. “Depois de uma semana, voltamos a conversar e diante das dificuldades narradas por eles para manter o projeto. Eu falei ‘olha... esse evento não pode morrer. Se quiserem eu entro como sócio”. E o resultado é esse. São 15 anos de atividades, 10 festivais realizados e um legado invejável. “O FIV reflete muito meu amor pelo violão”.  

Dentre as atrações, está também o mestre Turíbio Santos, que fecha a programação do FIV 15 Anos. Nascido em São Luís do Maranhão, mas radicado no Rio de Janeiro e com sólida carreira no exterior, Turíbio é um dos nomes mais festejados do violão brasileiro, tendo sido diretor da Sala Cecília Meireles e do Museu Villa-Lobos, e presidente da Academia Brasileira de Música entre 2010 e 2013.

O Festival Internacional de Violão, de Belo Horizonte, é considerado um dos mais importantes do gênero no país. Apesar de existir há 15 anos, esta é, na teoria, a décima edição do evento. Contudo, por ser uma edição online, os organizadores preferiram batizar o evento de FIV 15 Anos, e deixar para um evento presencial a celebração pela 10ª edição do Festival Internacional de Violão.

As edições anteriores contaram com alguns dos maiores violonistas do Brasil, entre eles Egberto Gismonti, Sérgio e Odair Assad, Toninho Horta, Zé Menezes, Guinga, Yamandu Costa, Hélio Delmiro, Sebastião Tapajós, Fabio Zanon, Heraldo do Monte e Carlos Barbosa-Lima.

Já entre os artistas internacionais, destaque para o grupo norte-americano Oregon, liderado por Ralph Towner, o beninense Lionel Loueke, o francês Roland Dyens, o sérvio Dusan Bogdanovic, o Argentino Pablo Marquez e a cubana Iliana Mattos.

 

CONCERTOS:

Sábado (18/09) - 19h

Duo Braga-Faria (MG), flauta e violão

Nonato Luiz (CE), violão

Juarez Moreira (MG), violão e guitarra

Domingo (19/09) - 19h

Thiago Delegado (MG), violão

Adam Taubitz (Alemanha) e Aliéksey Vianna (MG/Suíça). Violino e violão

Turíbio Santos (MA), violão.

 

ATIVIDADES DIDÁTICAS:

Sábado (18/09)

11h- Palestra O músico e as ferramentas de trabalho remoto, com Anderson dos Reis.

15h – Palestra A história do violão em Minas Gerais, com Celso Faria

16h – Debate Vertentes do violão brasileiro: 15 anos do FIV – Lançamento do acervo online do festival. Juarez Moreira, Aliéksey Vianna e Fernando Araújo. Mediador: Gustavo Bracher.

Domingo (19/09)

10h – Palestra Toninho Horta - Concepção harmônica idiomática e as contínuas interseções entre composição, performance e improvisação, com Gustavo Bracher

11h – Debate O Violão Lírio - uma experiência de lutheria inovadora

Aliéksey Vianna, Carlos Walter, Gianfranco Fiorini e Matthias Grob.

15h – Entrevista Vertentes do violão brasileiro: Turíbio Santos, o didata, com

Turíbio Santos, Fernando Araújo e Celso Faria.

16h – Debate Vertentes do violão brasileiro: duas gerações de violonistas-compositores: Thiago Delegado e Juarez Moreira. Mediador: Aliéksey Vianna

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