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Elodie Bouny estreia Concerto Nodus, para Violão e Orquestra, neste domingo em Portugal

Postado em Shows em 24/10/2021

(Elodie Bouny)

Por Alessandro Soares

A violonista e compositora francesa Elodie Bouny costuma habitar a linha do tempo da história do violão. Só pra citar alguns exemplos: No Brasil, ela é a primeira mulher a ser convidada a compor uma ópera que, devido à pandemia, ainda não estreou. Também ao criar o Concurso Novas, o único do país dedicado a composição para violão, ela ajudou a descortinar uma série de talentos criadores para o instrumento, em edições regulares e cujo interesse cresce cotidianamente. Isso sem falar nos intrigantes trios de que ela faz parte, como Rama Trio e Iroko Trio. 

Este domingo (28/10), às 14h (horário do Brasil), será igualmente marcante. Elodie vai estrear o Concerto Nodus para Violão e Orquestra, junto com a Orquestra Filarmônica das Beiras, regido pela maestrina Renata Oliveira, na abertura dos Festivais de Outono, em Aveiro, Portugal. É também a primeira vez em que o país português apresenta um concerto para violão e orquestra criado por uma mulher. Diga-se de passagem que isso é muito raro na maioria dos países ainda hoje. O evento será transmitido ao vivo online e ficará disponível gratuitamente por uma semana na internet.

Inicialmente composta em dois movimentos como exercício para a tese de doutorado Nodus: o desafio de compor para violão e orquestra, que defendeu em 2019 pela UFRJ quando ainda morava no Brasil, Elodie escreveu uma terceira parte e a obra agora tem 20 minutos de duração. “Compus esse concerto para uma orquestra reduzida de 40 músicos, sem dobras nos sopros, evitando algo nem pesado e nem muito denso. O vibrafone tem atuação bastante importante”, comentou em rápida entrevista ao Acervo anteontem. Há, inclusive, a recomendação para se posicionar o vibrafone perto do violão.

O título Nodus (do latim quer dizer “Nó”), dialoga com a questão do equilíbrio entre violão com orquestra. “Esse equilíbro é algo impossível à primeira vista. Então tem a ver com desfazer os nós desse problema, achar estratégia de escrita pra tornar viável.

Eu assisti à defesa de Elodie.  E já produzi uma palestra dela em São Paulo. De fato, é impressionante o caminho de novas ideias e propostas que ela desenvolveu na tese, cujo resumo destaca que escrever para violão solista e orquestra representa um desafio para os compositores, já que, por natureza, o violão é um instrumento que dificilmente consegue se sobressair diante de uma orquestra. Embora isso não impediu uma ampla produção do gênero.

Em sua pesquisa, Elodie propôs estratégias que possam facilitar a escrita para violão solista e orquestra, para valorizar o timbre do primeiro e estabelecer um equilíbrio sonoro entre ambos. “A escolha das texturas orquestrais é primordial para superar o desafio proposto, assim como um conhecimento técnico de diversas áreas, desde a escrita para orquestra até a questão da amplificação do instrumento”, afirma ela logo no resumo. E, como fruto das suas descobertas compôs o concerto.

“É uma escrita tonal na maior parte dos casos com alguns flertes com a atonalidade. É uma escrita tímbrica, valorizando as cores de cada instrumento”, frisou Elodie em depoimento a mim por whatsapp. Em 2019 eu ouvi dois movimentos desse maravilhoso concerto, em áudio midi. O concerto de Elodie é daqueles que jamais afastam o ouvinte pouco familiarizado com linguagens contemporâneas de composição.  Ao contrário. O contraste de paisagens sonoras, ora em momentos de suspense, ora de muita riqueza rítmica, lirismo, tudo gera uma vontade de querer ouvir esse concerto com muito gosto.

Resta torcer e esperar para que ela apresente este concerto no Brasil. Estamos tão acostumados a ver inúmeros concertos para violão engavetados, sem espaço para serem tocado, que é vibrante ver agora o Nodus estreando para o mundo.  

 

Tags: Elodie Bouny
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