FLAVIO APRO performs SOR’S VARIATIONS OP.9 [Official Video]

Estendo a descrição desse vídeo para relatar que essa talvez seja a obra mais importante na minha vida musical. Ouvi pela primeira vez as “Variações Op.9” em 1984, nas mãos do artista multimidiático Denis Mandarino (a quem dedico este vídeo e deixo o link de seu canal abaixo ***). Aquela execução foi um divisor de águas, pois naquele instante decidi ser músico profissional, tendo o violão clássico como veículo de expressão (e sem saber quais desafios me aguardavam por essa escolha). Confesso que sempre temi e evitei tocar essa obra, devido ao seu elevado grau de dificuldade, tanto técnico quanto musical. Apenas hoje, 36 anos mais tarde, resolvi enfrentar, com seriedade e reflexão, os obstáculos da “Op.9” (especialmente devido ao fato de que as peças que aprendemos durante a nossa formação – independente do seu grau de dificuldade – permanecem difíceis para o resto da vida). As dificuldades encontradas foram: 1) descobrir o andamento ideal para cada item da obra – especialmente o Tema, que já é uma variação do original de Mozart – considerando a sonoridade do violão, a tonalidade (Mi maior ao invés de Sol maior do original), quantidade de notas e exeqüibilidade técnica, fraseados com qualidade vocal etc; 2) manter a regularidade de pulsação em cada variação, bem como equilibrar  unidade entre elas; 3) dar sentido aos elementos melódicos (suspensões, apojaturas, antecipações...) através da articulação entre legato e non-legato, formando um caleidoscópio sutil de micro-nuances no intuito de trazer um significado apropriado ao discurso, o que não se percebe numa primeira audição (talvez essa tenha sido a maior dificuldade enfrentada); 4) unificar os motivos recorrentes (como a anacruse inicial em todas as variações) através da repetição da mesma articulação, a fim de trazer equilíbrio ao discurso melódico; 5) compreender a forma musical e destacar características fundamentais, tal como a sustentação da dominante estendida em pedal ao final da introdução (cuja mistura de sons era ouvida, no séc.XVIII, como novidade, uma espécie de holograma sonoro); 6) discernir, dentro da escrita do compositor, a diferença entre ornamentos estruturais (essenciais) e cadenciais (improvisações escritas), para propor intervenções improvisatórias como um gesto interpretativo pessoal, como fiz nas Var. II, III e V; 7) assimilar a forma mista utilizada por Sor em sua linguagem pré-romântica: romântica nos gestos, clássica na arquitetura, para se movimentar interpretativamente dentro dessa mescla. As decisões interpretativas foram inspiradas nas discussões de Charles Rosen, em seu livro “The Classical Style: Haydn, Mozart, Beethoven Expanded Edition (W.W.Norton, 1997)”, particularmente o capítulo ‘Structure and Ornament’; bem como nos de Sandra P. Rosemblum em “Performance Practices in Classic Piano Music: Their Principles and Applications” (Indiana University Press, 1988), em especial ‘Dynamics and Accentuation’. Ainda assim, não ousaria rotular minha performance como “historicamente informada”.
Hoje, em 2020, retribuo ao mundo o presente que recebi em 1984.

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