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Toninho Ramos

Nascimento: 06/03/1942

Natural de: São Paulo (SP)

Impregnado de música brasileira, com influências da música clássica, free jazz e música atonal, Toninho desenvolve um estilo bem pessoal de tocar e de compor, extremamente rítmico e harmônico, com muita liberdade de improvisação. Desde os anos 1970 reside na França.
Toninho Ramos

Discografia

Por Cristina Azuma

Filho de Olinda Morais Ramos, cozinheira profissional, e de Domingos Ramos, acordeonista e reparador de instrumentos, Antônio Ramos tem oito irmãos que frutos desse casamento, entre eles os músicos Paulo (que é percussionista) e Augusto (sanfoneiro), e mais cinco irmãos apenas por parte do pai. O patriarca Domingos era grande amigo de Luiz Gonzaga e também parceiro na composição Dúvida. Toninho é afilhado de Zé Gonzaga, irmão de Luiz e também acordeonista. Assim a música do Nordeste sempre fez parte do seu universo.

Desde criança Toninho adorava criar novas melodias sobre canções conhecidas. Aos sete anos de idade, apaixonou-se pelo violão. Foi em Uberaba, Minas Gerais, onde foi criado, que Toninho começou a tocar e a construir seu próprio aprendizado como autodidata, atirado pelas diversas formas de tocar o instrumento, primeiro na rua, nas vendas no fim de serviço dos operários da construção que se reuniam para tocar.

Aprendizado musical

Geraldo Rezende, amigo de seu pai, foi uma influência importante, pois lhe deu várias bases técnicas e de harmonia. Seu pai o levou para aprender teoria musical, solfejo e leitura com um tenente, músico da banda militar da cidade. Adolescente, escutava sempre passando na rua pela janela alguém tocando pelo método de Carcassi e, finalmente, convivendo com violonistas, deu-se conta de que não sabia ler partitura. Em encontros diários aprendeu a ler no instrumento, trocando os ensinamentos clássicos por arranjos populares.

A qualidade de compositor-intérprete surgiu ao mesmo tempo em que, aos 13 anos de idade, fez suas primeiras apresentações com obras clássicas e populares, tocando nessas ocasiões suas primeiras composições e arranjos. A evolução musical sempre foi orientada pelo constante desejo de descobrir novas sonoridades e novas técnicas. Ele utiliza os cinco dedos da mão direita para os acordes, os diferentes dedos na mão direita para escalas, a técnica de palheta com cada dedo da mão direita.

Boates paulistanas

Toninho Ramos veio para São Paulo para ser músico junto com o irmão mais velho, Augusto Ramos, que tocava acordeão e com quem tocou muito em duo, e foi aí que finalizou sua formação como instrumentista. Como ele mesmo diz, "o acompanhador é o anjo da guarda do cantor". Tocou nas boates da noite paulistana desde os seus 16 a 17 anos de idade, ajudado entre outros por Mauricy Moura, respeitado cantor de seresta, pois era menor de 21 anos. Andava com Macumbinha, violonista da mesma geração. Escutava pelo rádio Bola Sete e Laurindo de Almeida, que foram embora do Brasil.

O cantor Carlos Paraná montou a boate mítica da noite paulistana, o Jogral, na rua Avanhandava, sempre lotado até de madrugada e ali tocava o Trio Mocotó. Seu irmão Paulo Ramos, percussionista, substituiu Joãozinho Parahyba tocando com o pianista Mário Edson do Trio Mocotó. Hoje Paulo mora em Montreal, Canadá.

E assim começou a carreira sob o nome de Antonio Ramos, tocando em boates da noite paulistana na Galeria Metropolis: Carinhoso, Jogral, onde conviveu com vários grandes músicos, todos jovens: Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Jorge Ben, dentre os mais conhecidos hoje em dia.

Vida de professor e parceiras

Nessa época, com uns 19 anos, começou a dar aulas numa escola com José Coelho sobre temas como choro e música brasileira mais antiga, que não faziam tanto sucesso. Mas também deu aulas particulares, que funcionaram muito bem, graças à Bossa Nova. Dentre seus alunos dessa época se destaca o compositor e violonista Eduardo Gudin, que ele conheceu de calças curtas.

Ali Toninho conheceu letristas com os quais colaborou, como Valgênio Rangel e Expedito Fadiano, que depois trabalhou com Moacyr Franco e que compôs a música Carnaval. Fez turnê com a cantora Vanja Orico, que fez a Maria Bonita no filme Lampião.

Primeiros LPs

Gravou raros discos no Brasil. Seu primeiro LP, O violão e a flor, de 1962, tem vários arranjos de música brasileira e duas peças de sua autoria. Um segundo disco saiu no Brasil, no qual gravou Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos, e o Adagio de Albinoni.

Dedicou-se muito ao estudo do violão clássico, teve aulas com Geraldo Ribeiro, e começou a ter apreensão para tocar em público. Nessa época, estudou harmonia clássica em aulas particulares. Passou progressivamente ao violão de 7 cordas com 25 anos de idade, com Di Giorgio tendo feito seu primeiro violão de 7 e tocando depois com um Joaquim Dornelas de 1975. Voltou a tocar na noite aos 28 anos de idade.

Théo de Barros (do Quarteto Novo), depois da gravação de seus primeiros discos, lhe disse "Toninho, se ninguém te escutar, continua nessa linha que estarei lá te escutando". Silvio Altuori, diretor de cinema que ele conheceu na boate Carinhoso e que participou do filme Orfeu Negro, o ajudou muito. Ele foi o primeiro a lhe falar de ir morar na França.

Na França com Martinho da Vila

Veio à Europa por três vezes, em 1974, 75 e 76, acompanhando Martinho da Vila, em cujo grupo substituiu Rosinha de Valença, tocando com Paulo Moura, Mileto (sax e flauta) e Manuel do Cavaco. Nessas viagens fez muitos contatos. Numa dessas viagens substituiu, no Discophage, o guitarrista e cantor Rolando Farias do duo Les Étoiles, acompanhando em trio o cantor Luiz Antonio, junto com Mileto e o baterista Papão.

Acabou ficando na França desde então, para poder divulgar sua própria música e viver como instrumentista. Trabalhou em boates francesas, como Discophage et Chez Felix, que garantiram sua sobrevivência. Na Europa, fez shows na Alemanha, em Amsterdam, como solista e com outros músicos, dentre os quais Airto Moreira, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Sivuca, Cesarius Alvim, Nenê e Tania Maria.

Estudos de composição

Interessado por composição, fez o curso de Composição Clássica na École Normale de Paris, com Tony Hobin. Impregnado de música brasileira, com influências da música clássica, free jazz e música atonal, ele desenvolve um estilo bem pessoal de tocar e de compor, extremamente rítmico e harmônico, com muita liberdade de improvisação.

Desde 1978, deu aulas, junto com Marie Bancel na academia de violão da Université de Jussieu em Paris. Em 1995 mudou-se para Orléans, onde foi criada a escola EMATORA – École de  Musique Associative Toninho Ramos -, que existiu durante 15 anos. Hoje em dia, ainda mora em Orléans.

Mais discos

Na França, gravou em 1979 o LP Dedicado, misturando arranjos e peças próprias, com seu irmão Paulo Ramos na percussão. Em 1983, gravou na Alemanha o LP Cordas brasileiras, inteiramente de peças autorais, também acompanhado por Paulo Ramos. Em 1996, gravou na França o CD solo Canto da lua, em uma sessão na Abbaye de Vauluisant, apenas com peças improvisadas. Em 2001, gravou um CD, em duo com Laurent Desmurs ao piano, com músicas de sua autoria. Em 2019, no CD Sons da casa, de sua filha e cantora Tamia Ramos, ele é o compositor de todas as músicas, algumas em parceria com ela, e com diferentes letristas a cada música.

Editou dois álbuns para violão solo, O Brasil de norte ao sul e O violão e a flor, nos quais apresenta algumas de suas composições e, além disso, tem mais duas peças no álbum de partituras 5 pièces populaires d’Amérique du Sud, todos editado pela editora Henry Lemoine.

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