A maioria dos estudiosos e fãs concordam que o álbum Acabou Chorare dos Novos Baianos foi protagonista e revolucionário no cenário da música brasileira. Com forte influência do rock distorcido de Jimmy Hendrix e da bossa nova dissonante de João Gilberto, o grupo era formado por Moraes Moreira, Baby Consuelo e Paulinho Boca de Cantor (vocais), Pepeu Gomes (guitarra), Dadi Carvalho (baixo), Jorginho Gomes e Baixinho (ambos na bateria e bongô), além de Luiz Galvão como letrista.
O terceiro livro impresso da Coleção discos da música brasileira, Acabou Chorare: o rock’n’roll encontra a batida de João Gilberto foi escrito por Marcio Gaspar, jornalista com vasta experiência nas grandes gravadoras e redações de jornais e revistas. Ao longo de sua carreira, o autor teve a oportunidade de conviver com diversos artistas e testemunhar a história da música em construção.
Lançado em 1972, no auge repressivo da Ditadura Militar no Brasil, o segundo LP do grupo, com 10 faixas e gravado pela Som Livre, fez história e consolidou Pepeu Gomes como um dos maiores guitarristas do país. Mais de 50 anos depois, ainda é considerado um dos mais importantes álbuns da música popular brasileira, que aparece em destaque em todas as listas e segue inspirando gerações de artistas como Marisa Monte e Tulipa Ruiz, que mencionam no livro a influência de Acabou Chorare em suas obras.
“Ele ensaiava vocais com a gente e gostava da voz rural do Moraes. A chegada do João nos fez desencaixotar bumbo, pandeiro, cavaquinho; e o repertório que já vinha daquele LP que não deu certo na Philips foi se modificando e se abrasileirando; foi sendo polido, burilado. O importante é que o João nos fez enxergar que a gente já trazia uma bagagem de música brasileira; e que era essa bagagem que tinha que ser mostrada, tínhamos que olhar para dentro de nós mesmos.”
Paulinho Boca de Cantor, sobre a influência de João Gilberto
“O disco, com sua arrojada orgia de guitarras, pandeiros e cavaquinhos, foi lançado quando ainda ecoava uma discussão que hoje soa absurda, sobre a presença de instrumentos elétricos em gêneros nacionais como o samba e o choro. E essa foi só a primeira surpresa: ato contínuo, o país começou a prestar mais atenção naquele estranho bando de cabeludos que vivia em comunidade hippie e exibia uma alegria de viver para muitos incompatível com aquele ano de 1972.”
Marcio Gaspar
SOBRE A COLEÇÃO DISCOS DA MÚSICA BRASILEIRA
A Coleção discos da música brasileira é uma série de livros lançados inicialmente em e-book e que vem sendo gradativamente disponibilizada em formato físico. Apresenta, em cada volume, a história de um importante álbum que marcou a música, seja pela estética, por questões sociais e políticas, pela influência sobre o comportamento do público, como representantes de novidades no cenário artístico ou, também, por seu impacto no mercado fonográfico. Analisando as obras de um ponto de vista histórico, cultural, social e estético, os textos propõem apresentar narrativas em forma de livro-reportagem, ouvindo as pessoas envolvidas na criação do álbum e aprofundando-se em detalhes sobre as canções, contando histórias de bastidores das gravações e estabelecendo elos com o presente, desenhando uma cadeia de influências que permite um olhar sobre a música brasileira hoje. A coleção Discos da Música Brasileira, publicada em português e em inglês, tem organização do crítico musical Lauro Lisboa Garcia.
Atualmente com cinco volumes lançados em e-book e três com versões físicas, a coleção se iniciou com a publicação digital Da lama ao caos: que som é esse que vem de Pernambuco? do jornalista e crítico musical José Teles, que destrincha o álbum de Chico Science e Nação Zumbi, um dos mais representativos da cena manguebeat. O segundo volume da coleção é o livro Acabou Chorare: o rock’n’roll encontra a batida de João Gilberto, do jornalista e escritor Marcio Gaspar, que analisa o icônico álbum dos Novos Baianos. Já a terceira obra é o África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver, da jornalista e pesquisadora musical Kamille Viola. As publicações acima já estão disponíveis em formato físico. Já os títulos O canto da cidade: da matriz afro-baiana à axé music de Daniela Mercury, do jornalista e produtor cultural Luciano Matos; e Refazenda: o interior floresce na abertura da fase “Re” de Gilberto Gil, da jornalista e pesquisadora Chris Fuscaldo, estão disponíveis apenas em e-book, por enquanto.
SOBRE O AUTOR
Marcio Gaspar é jornalista, escritor e produtor cultural. Foi profissional da indústria fonográfica em sua fase resplandecente. Na Som Livre-Sigla produziu, ao lado de Aretuza Garibaldi, os discos Cartola – bate outra vez, Ataulfo Aves – leva meu samba e Adoniran Barbosa – o poeta do Bexiga. Foi crítico musical e repórter especial do Jornal da Tarde e colaborador das revistas Billboard, Afinal, Qualis e Época.
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